em revisão

I ENCONTRO DO GRUPO EÇA: a 1ª versão de O Crime do Padre Amaro
Data: 29/10/2014
Local: Prédio de Letras

Caderno de resumos e programa
 

Sumário
Mesa 1 .................................................................................................................. 2
Mesa 2 .................................................................................................................. 2
Mesa 3 .................................................................................................................. 2
Mesa 4 .................................................................................................................. 2
RESUMOS ................................................................................................................ 3

 

Entre Santos: A profanação do ágape em O Crime do Padre Amaro.................. 3
Alana de O. Freitas El Fahl
As faces do mal nas edições de O Crime Do Padre Amaro ................................ 3
Ana Márcia Alves Siqueira
Padres e padres: características do (anti) clericalismo em duas versões de O crime
do padre Amaro (Eça de Queirós) ....................................................................... 4
Antonio Augusto Nery
A representação do desejo na 1º versão de O crime do Padre Amaro ............... 5
Daiane Cristina Pereira
O fidalgo, o padre e o profanador em O Crime do Padre Amaro (1ª edição – versão
da Revista Occidental) ......................................................................................... 6
Danilo Silvério
O horizonte de leitura da 1ª versão de O crime do Padre Amaro ........................ 6
Giuliano Lellis Ito Santos
Metamorfoses dos campos de Leiria em O crime do padre Amado ................... 6
Hélder Garmes
Totó, a representante do “povão” em O crime do padre Amaro ......................... 7
José Carlos Siqueira
O Crime do Padre Amaro e os companheiros de geração de Eça de Queirós ... 8
José Carvalho Vanzelli
O Crime do Padre Amaro: Eça de Queirós e sua cozinha literária ...................... 8
José Roberto de Andrade
A revisão crítica do realismo queirosiano em O Crime do Padre Amaro ............. 8
Marcio Jean Fialho de Sousa
O realista – retrato de um romancista de estreia: Eça de Queirós autor d’O crime do
padre Amaro da Revista Ocidental (1875) ........................................................... 9
Silvio Cesar dos Santos Alves
I Encontro do Grupo Eça
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Mesa 1 (9h às 10h00 – sala 261)
Cronograma de Apresentação
José Carvalho Vanzelli - O Crime do Padre Amaro e os companheiros de geração de Eça de
Queirós
Antonio Augusto Nery - Padres e padres: características do (anti) clericalismo em duas versões de
O crime do Padre Amaro (Eça de Queirós)
Mesa 2 (10h30 às 12h30 – sala 261)
José Roberto de Andrade - O Crime do Padre Amaro: Eça de Queirós e sua cozinha literária
Giuliano Lellis Ito Santos - O horizonte de leitura da 1ª versão de O crime do Padre Amaro
Hélder Garmes - Metamorfoses dos campos de Leiria em O crime do Padre Amado
José Carlos Siqueira - Totó, a representante do “povão” em O crime do Padre Amaro
Mesa 3 (14h às 15h30 – sala 261)
Silvio Cesar dos Santos Alves - O realista – retrato de um romancista de estreia: Eça de Queirós
autor d’O crime do Padre Amaro da Revista Ocidental (1875)
Marcio Jean Fialho de Sousa - A revisão crítica do realismo queirosiano em O Crime do Padre
Amaro
Daiane Cristina Pereira - A representação do desejo da 1º versão de O crime do Padre Amaro
Mesa 4 (16h às 17h30 – sala 261)
Danilo Silvério - O fidalgo, o padre e o profanador em O Crime do Padre Amaro (1ª edição – versão
da Revista Occidental)
Alana de O. Freitas El Fahl - Entre Santos: A profanação do ágape em O Crime do Padre Amaro
Ana Márcia Alves Siqueira - As faces do mal nas edições de O Crime Do Padre Amaro
I Encontro do Grupo Eça
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RESUMOS
Entre Santos: A profanação do ágape em O Crime do Padre Amaro
Alana de O. Freitas El Fahl – Universidade Estadual de Feira de Santana
Eça de Queirós, em O Crime do Padre Amaro, amplia a discussão em torno da qualidade da
escrita ficcional como um labor constante perseguido pelos autores canônicos. Suas três versões
expõem, paulatinamente, os andaimes de seu projeto literário sendo erguidos à vista dos seus
leitores. O presente trabalho tem por objetivo analisar, de forma comparativa, uma cena presente
na primeira versão publicada pela Revista Ocidental em 1875 e na de 1880, versão corrente.
Trata-se da cena presente no Capítulo VII da última e no VI da primeira, o jantar dos padres na
casa do Abade da Cortegaça. Analisaremos de que forma o autor vai construindo tal passagem,
através de estratégias narrativas e descritivas, sustentadas pela exploração dos detalhes e
minúcias do olhar, sempre a serviço do seu ideal de pintar, acuradamente, as cenas portuguesas.
Percebemos que tal banquete configura-se como uma cena axial que condensa de forma
simbólica sua crítica ao clero e suas incongruências.
As faces do mal nas edições de O Crime Do Padre Amaro
Ana Marcia Alves Siqueira (UFC)
Bem e mal fazem parte da condição humana e a literatura tem por mérito constituir um espaço
privilegiado de discussão de nossa condição por funcionar como um instrumento de sondagem do
eu e do outro, dos anseios e desejos mais obscuros da alma humana e também por nos fornecer
elementos para a compreensão do que esta condição seja.
De certo modo esta é uma das proposições do grupo que, reunido em torno das Conferências
Democráticas do Casino Lisbonense, em 1871, defendia uma literatura crítica, dirigida pela análise
racional e pelo conhecimento das questões filosóficas e sociais contemporâneas para sobrepujar o
desgastado sentimentalismo romântico e o marasmo artístico do contexto português.
Na conferência “O realismo como expressão da arte”, Eça de Queirós propunha uma nova arte
que atendesse aos anseios do espírito do tempo, que pudesse regenerar a consciência social e
pintar a realidade para levar à reflexão dos problemas sociais. Uma arte visando à discussão dos
problemas morais e ao aperfeiçoamento do homem por meio da crítica dos costumes, de denúncia
da deterioração da sociedade e de suas instituições: a família, o estado e a igreja, para possibilitar
a reforma social.
Na esteira dessa proposta, a escrita do romance O crime do padre Amaro seria o início do
projeto literário de análise crítica da vida social portuguesa oitocentista e também das perspectivas
particulares de indivíduos envolvidos em interesses, convenções e normas de comportamento.
I Encontro do Grupo Eça
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Todavia, a edição publicada na Revista Ocidental, em 1875, sem a revisão das provas solicitadas
por Eça de Queirós, ocasionou as edições subsequentes, de 1876 e 1880, nas quais são
percebidos, além da reestruturação mais cuidada, o aprimoramento do ponto de vista estilístico e
uma aproximação estética em relação ao Realismo-Naturalismo, possibilitando, dessa forma, a
discussão mais aprofundada de problemas sociais, como também das questões morais e
motivações internas das personagens ligadas, muitas vezes, à temática do mal.
Segundo Paul Ricoeur (1988), o caráter enigmático da problemática do mal deve-se à
ideia comum de se colocar sob um mesmo plano fenômenos díspares: o mal moral – visto na
perspectiva religiosa como um pecado ou, no contexto laico, como uma desobediência à norma –
e o mal sofrido, isto é, a diversidade de causas que trazem sofrimento e morte. O filósofo
considera que a confusão se explica no fato de o sofrimento ser tomado como ponto de referência,
sendo antes de tudo necessário insistir na disparidade de princípio entre mal sofrido e mal
infringido, a despeito da tendência de se atribuir ao mal uma característica genérica ligada a
outros termos como perversidade, crime, pecado, crueldade etc..
A esse respeito, explica Júlio Jeha (2007, p.5):
Ele (o mal moral) consiste na desordem da vontade humana, quando a volição se desvia da
ordem moral livre e conscientemente. Vícios, pecados e crimes são exemplos de mal moral.
Enquanto o mal físico é sempre sofrido, quer ele afete nossa mente ou nosso corpo, o mal moral
surge quando, livre e conscientemente, infligimos sofrimento nos outros.
A impossibilidade de separação entre mal e moral, nessa perspectiva de avaliação, submete o
exame da questão ao âmbito da filosofia moral e da análise do comportamento humano segundo
prerrogativas éticas. O que remete às propostas de análise da sociedade e do homem pretendidas
por Eça de Queirós. O mal moral é, portanto, a categoria de análise, apreendida da noção de mal,
que se procura identificar na primeira e terceira edição de O crime do padre Amaro.
Considerando esses pressupostos, o estudo comparado aqui realizado pretende a análise da
questão dos valores morais relacionados ao mal, a partir da observação dos diálogos e ações
realizados pelas personagens nas duas edições citadas, especialmente em relação as motivações
maldosas de Amaro contra João Eduardo tanto na primeira edição de 1875, quanto nas
modificações ocorridas na terceira edição que proporcionam maior participação do padre Natário
nesse episódio. O trabalho apresenta também a discussão do papel desempenhado pelo narrador
de cada uma das edições de OCPA a partir de seus posicionamentos frente ao episódio de
destruição da imagem de João Eduardo e de seu noivado com Amélia, sobretudo para salientar
alterações e acréscimos evidenciando condutas relacionadas ao mal empreendidas por Amaro,
padre Natário e D. Josefa. Por fim objetiva-se também discutir de que forma estas modificações de
enredo e de estratégias narrativas colaboram para o entendimento de uma possível inter-relação
entre os processos estéticos e as atitudes antiéticas criticada na obra.
Padres e padres: características do (anti) clericalismo em duas versões de O crime do padre
Amaro (Eça de Queirós)
Antonio Augusto Nery (UFPR/CAPES)
I Encontro do Grupo Eça
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O objetivo deste trabalho é averiguar a hipótese de que, para além de se constituir como um
dos principais romances em Língua Portuguesa no qual a crítica anticlerical e antirreligiosa está
presente, O crime do Padre Amaro também pode ser um bom exemplo para compreendermos as
características e minúcias desse tipo de crítica veiculada por Eça de Queirós (1845-1890) em seus
escritos. O intuito é problematizar a concepção de anticlericalismo com que, quase sempre, a
narrativa foi (é) analisada, tentando investigar os discursos críticos que extravasam os nítidos
ataques aos religiosos e, por consequência, à Religião. Para tanto, confrontarei a atuação das
personagens Cónego Silva, da primeira versão do romance (1875), e Abade Ferrão, da terceira
versão (1880). Em meu ponto de vista, tais personagens poderiam exemplificar outras faces do
discurso anticlerical queirosiano, pois fazem apologia a um “modelo” de clérigo que seria aceitável
na sociedade, não afeito à hipocrisia e às práticas nefastas exercidas por alguns religiosos, como
Padre Amaro e seus convivas, na micro-sociedade da ficcional Leiria, a qual, mimeticamente, é
um desdobramento da macro-sociedade “empírica” dos leitores de ontem - e de hoje. A ideia é
propor que talvez pudéssemos entender a problemática como um “(anti) clericalismo”, com os
parênteses indicando que a crítica está sempre presente, mas pode ser relativizada em alguns
casos específicos, os quais pretendo preliminarmente apontar nessa leitura.
A representação do desejo na 1º versão de O crime do Padre Amaro
Daiane Cristina Pereira
A representação do desejo é patente nas três versões de O crime do Padre Amaro. Por este
motivo, iremos observar como este desejo se configura para as personagens de Amélia e Amaro,
tendo em vista as diferenças que se estabelecem devido à suas condições de mulher e homem.
Pretendemos mostrar como a condição feminina e masculina implicam num modo diverso de
representação do desejo e como tal sentimento define a trajetória de cada personagem. Simone de
Beauvoir diz-nos que um dos arquétipos do “eterno feminino” aproxima as mulheres das coisas
sagradas e, portanto, da Igreja. No entanto, dá-nos a entender que a educação feminina baseada
na crença da fragilidade e da irracionalidade da mulher estimula esta aproximação. Podemos
perceber que esta educação é delineada claramente na personagem de Amélia e conforma a
representação dos desejos sexuais e amorosos dela, que são marcados pelo idealismo e
misticismo. Amaro também tem uma educação católica, mas o misticismo se esvanece em
transgressão e desenha outro tipo de desejo. Além disso, ele tem plena consciência da
mistificação da figura do padre pela educação feminina e usa isto em favor de si. Pretendemos,
então, demonstrar como as educações, marcadas pelas condições de gênero das personagens,
conformam as personagens e seus destinos, restando a Amélia uma sina trágica e a Amaro a
plena posse do seu desejo de homem, apesar dos impedimentos da batina.
I Encontro do Grupo Eça
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O fidalgo, o padre e o profanador em O Crime do Padre Amaro (1ª edição – versão da Revista
Occidental)
Danilo Silvério
A fim de investigar algumas das relações de classe subjacentes a O Crime do Padre Amaro, na
sua primeira edição, o trabalho descreve a relação que o narrador estabelece entre uma
aristocracia empobrecida e o clero e, em seguida, analisa as implicações dessa construção em um
aspecto importante do romance: a profanação. Ademais, esses laços, conforme Arno J. Mayer,
entre a elite aristocrática e a igreja, por conta, sobretudo, da posse da terra, tomam forma num
aspecto relevante da obra, qual seja, o desprezo pelo burguês – que é vagamente mencionado
neste romance de Eça de Queirós. O que se pretende, afinal, a partir desses elementos, é
estabelecer um contraponto entre uma moral aristocrática e outra, burguesa, para, então, proceder
à análise do profano, especialmente no décimo quinto capítulo da obra, quando Amaro e Amélia se
rendem a um encontro amoroso na casa do sineiro.
O horizonte de leitura da 1ª versão de O crime do Padre Amaro
Giuliano Lellis Ito Santos
Este trabalho visa recompor o horizonte de leitura em que se insere a publicação na Revista
Occidental da primeira versão de O crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós. Para isso, foram
pesquisados periódicos publicados no mesmo ano (1875), que organizados de modo a compor o
ambiente em que o romance era lido, ajudam na reconstituição histórica de sua primeira leitura. A
abordagem é dividida em três etapas, tentando dar conta da pluralidade de olhares: 1. Revistas
publicadas no mesmo ano do romance, focando essencialmente em seus programas e suas
resenhas; 2. Livros publicados no mesmo ano, focando em seus prefácios por seu caráter crítico; e
3. A própria Revista Occidental, buscando entender como o romance se inseria no conjunto.
Entender este horizonte de leitura nos ajuda a delimitar o sentido histórico deste romance,
possibilitando entender melhor sua recepção. Através desses pontos chegamos a um ambiente
propício para a publicação de uma obra de viés Naturalista, já que em sua maior parte a imprensa
da época era composta por autores ligados a este movimento, senão por grupos mistos de
escritores distribuídos entre os considerados românticos e os realistas.
Metamorfoses dos campos de Leiria em
Hélder Garmes
O crime do padre Amado
I Encontro do Grupo Eça
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A presente proposta visa a ler os dois primeiros capítulos da primeira versão de O crime do
padre Amaro, de 1875, que tematizam a apresentação de Leiria, em confronto com as outras duas
versões (1876, 1880), procurando identificar as escolhas que o escritor fez para caracterizar
aquela cidade portuguesa como extremamente provinciana, com uma população dominada por um
conjunto de padres corruptos.
O primeiro capítulo da primeira versão, nesse aspecto, é exemplar, já que as seis páginas que o
compõem acabam se transformando em apenas um parágrafo nas duas versões seguintes,
reduzido ainda em tamanho da segunda para a terceira versão.
O segundo capítulo da primeira versão, com quatro páginas e meia, passa a ter cerca de dez
páginas nas outras duas. Essa ampliação também se dá no primeiro capítulo que, como
observado, transforma-se em apenas um parágrafo de um novo primeiro capítulo de cerca de oito
páginas nas outras duas versões.
Nesses dois primeiros capítulos, o volume de texto mais que dobra da primeira para as outras
duas versões, com a supressão de quase todo o texto do primeiro capítulo da primeira versão.
Pretende-se identificar e descrever detidamente essas transformações e interpretá-las à luz do
conjunto da obra de Eça de Queirós. Para tanto, será empregada, também, parte de sua fortuna
crítica, com destaque o trabalho de Carlos Reis e Maria do Rosário Milheiro, A construção da
narrativa queirosiana – o espólio de Eça de Queirós (Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda,
1989) e a edição crítica de O crime do padre Amaro, que contempla a segunda e a terceira
versões da obra, editadas por Carlos Reis e Maria do Rosário Cunha (Lisboa: Imprensa Nacional –
Casa da Moeda, 2002).
Totó, a representante do “povão” em O crime do padre Amaro
José Carlos Siqueira (UFC)
Este estudo parte do pressuposto de que Eça, ao compor seus primeiros romances, se propôs
um projeto literário em que almejava dar conta da gangorra histórica entre modernidade e
arcaísmo no qual seu país se achava irremediavelmente enredado. Assim, a escolha de retratar o
Portugal profundo em seu romance inicial talvez tenha sido uma decisão bem pensada para
abordar essa tensão histórica e, portanto, fazer uma crítica radical às condições de vida da antiga
metrópole.
No interior de seu país, Eça encontraria o roteiro mais adequado para mostrar como antiquadas
estruturas do Antigo Regime ainda perduravam na dinâmica da sociedade lusa, as quais
comprometiam o esforço por parte da elite nacional de modernizar e desenvolver economicamente
o país. A comparação entre a versão 1 e a 3 de O crime do padre Amaro poderá nos fornecer
elementos analíticos para explicar os motivos da insatisfação de Eça com a versão original: pronta
certamente em seu ataque aos privilégios sociais do clero em Portugal, mas ainda muito longe de
explicar a relação de força entre os “três estados” presentes no Portugal daquele período, pois
faltava uma personagem que pudesse então figurar o “terceiro estado”, o “povão”, no esquema
I Encontro do Grupo Eça
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montado para o romance. Segundo o raciocínio desenvolvido neste trabalho, esse papel coube à
Totó, a filha do sineiro, que não comparece na versão inicial do romance.
O Crime do Padre Amaro e os companheiros de geração de Eça de Queirós
José Carvalho Vanzelli
O Crime do Padre Amaro, principalmente em suas duas primeiras versões (1875 e 1876), foi
uma obra sempre circundada de polêmica. A versão de 1875, publicada na Revista Occidental, por
exemplo, foi motivo de acaloradas discussões entre o autor, Eça de Queirós, e os responsáveis
pelo periódico, Jaime Batalha Reis e Antero de Quental.
A recepção crítica de O Crime do Padre Amaro – seja a versão da Revista Occidental, seja a
primeira versão em livro em 1876 – não foi menos controversa. Entre acusações de plágio, como
a feita por Machado de Assis ao aproximar a obra de Eça com La faute de l’abbé Mouret de Zola, e
elogios à inovação e ousadia naquelas páginas, muitas foram as reações despertadas pela história
do relacionamento de Amaro e Amélia.
Como teriam, então, as pessoas próximas a Eça de Queirós, lido O Crime do Padre do Amaro?
A busca por esta ela resposta é o que nos guia nesta apresentação. Através de correspondências e
de textos críticos publicados em periódicos e em livros da época, intencionamos apresentar como
figuras centrais para a formação intelectual de Eça, como Antero de Quental, Ramalho Ortigão,
entre outros, receberam a primeira obra queirosiana engajada na estética do “Realismo como nova
expressão de arte”.
O Crime do Padre Amaro: Eça de Queirós e sua cozinha literária
José Roberto de Andrade (UFBA/IFBA/CAPES)
O escritor Eça de Queirós (1845-1900) não se destacou pelas habilidades culinárias, mas
marcou a cozinha portuguesa. Em sua obra literária, Eça escolheu representar, também pela
perspectiva do estômago, a sociedade portuguesa de sua época, aproximando o escritor do
cozinheiro. Neste artigo, compara-se a reelaboração que sofrem três personagens — José
Migueis; João Eduardo e Gustavo — nas três versões — 1875, 1876 e 1880 — d´O Crime do
Padre Amaro, para destacar a importância da gastronomia como elemento de crítica à sociedade
portuguesa e como chave interpretativa dos textos ecianos.
A revisão crítica do realismo queirosiano em O Crime do Padre Amaro
Marcio Jean Fialho de Sousa (USP)
I Encontro do Grupo Eça
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O texto da primeira edição de O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, é mais sucinto em
suas descrições e mais limitado em quantidade de personagens, fatores responsáveis por
deixarem a narrativa mais objetiva e com menos incidentes de intrigas que apareceriam nas
edições posteriores. Segundo João Gaspar Simões, em sua Vida e Obra de Eça de Queirós, a
versão de 1875 “obedece a uma tal concisão no desenrolar dos acontecimentos que o seu
principal objetivo é chegar ao fim: ao crime do padre amaro, ao problema do nascimento dessa
criança que irá perecer afogada nas águas do rio.” (SIMÕES, 1973, p. 353.). Essa afirmação de
Simões demonstra, em outros termos, que O Crime do Padre Amaro de 1875 é menos realista e
mais místico-sensual que as versões posteriores. Ou seja, o primeiro texto publicado apresentava
uma crítica social menos incisiva até porque, sendo um romance com propósitos realistas, fazia-se
necessário que Eça tivesse mais conhecimentos, ou que ao menos os demonstrassem, sobre os
costumes da província na qual se desenvolveu o enredo. Fato que seria abordado pelo próprio
escritor no prefácio da segunda edição, na qual afirma que na ocasião da primeira publicação, seu
conhecimento sobre Leiria era ainda incompleto.
Dessa forma, o objetivo dessa análise, a partir do Capítulo XVII da primeira versão de O Crime
do Padre Amaro, publicado na Revista Occidental, em 1875, e os Capítulos XVII e XIX da terceira
edição publicado em 1880, é verificar como a edição de 1880 se torna mais realista e mais
crítico-social que a primeira, tendo como base as regras da arte realista elencadas pelo próprio
Eça em seu discurso proferido nas Conferências do Casino Lisbonense.
O realista – retrato de um romancista de estreia: Eça de Queirós autor d’O crime do padre Amaro
da Revista Ocidental (1875)
Silvio Cesar dos Santos Alves
Na “Introdução” à “Correspondência” de Eça de Queirós, o editor Guilherme de Castilho afirma
que “é um retrato em corpo inteiro [...] o que destas cartas finalmente resulta”, ponderando que
poderíamos estar “mais próximos da verdade se em lugar de ‘retratos’, no singular, falássemos
antes no álbum de retratos que verdadeiramente é a sequência biográfica desta correspondência”
(CASTILHO, 1983, p. 21). Neste trabalho, tomando como princípio a convicção de que “a vida de
um escritor não só está ligada ao seu trabalho, como não pode ser separada dele” (SNOW, 1988,
p. x), expressa pelo crítico Charles Percy Snow, em sua obra Os realistas – retrato de oito
romancistas, pretendemos encontrar, no “álbum de retratos” que constitui a “sequência
biográfica” da correspondência queirosiana, aquele em que figura o Eça que, de maneira um tanto
polêmica, estreara como autor de romances, em 1875, com a publicação da primeira versão d’O
crime do padre Amaro, na Revista Ocidental. Em nossa busca pela fixação de tal retrato,
tomaremos como limites cronológicos e bibliográficos a carta escrita no verão de 1870, a Jaime
Batalha Reis e a Antero de Quental, de Leiria, e a escrita em 21 de abril de 1875, de Newcastle, a
Batalha Reis.