UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB)
Maria Zilda da Cunha, vice-diretora em exercício no CELP, coordena o simpósio temático Circulação, Tramas & Sentido mas que enredam a literatura infantil e juvenil juntamente com Regina Michelli (UERJ) e Diógenes Buenos Aires (UESPI), parceria entre os GTs da ANPOLL, Leitura e literatura infantil e juvenil e As vertentes do insólito, que ocorrerá no XVI Congresso Internacional da ABRALIC, no período de 15 a 19 de julho de 2019, na Universidade de Brasília.
As inscrições ocorrem até 15/03/2019, no site da Abralic (http://www.abralic.org.br/).
A Literatura para crianças e jovens responde, atualmente, por uma gama de possibilidades de abordagem que a torna, praticamente, um campo específico, visitado por diferentes teorias e propiciador de variada produção no que tange aspectos ligados à pesquisa no âmbito mais teórico ou prático. Refletir sobre a literatura mais direcionada ao público infantil e juvenil implica pensar relações que se tecem em torno, por exemplo, da autoria, por vezes na dupla articulação textual e imagética, em que o olhar se volta para as ilustrações e o design do livro, bem como das produções textuais em diferentes gêneros literários e linguagens, obrigando à observação de experimentações que revelam fecundidade na composição artística. Além disso, emergem pesquisas que se voltam para o reendere&cce dil;amento a crianças e jovens de obras escritas originariamente para o público adulto, sinalizando o alargamento de fronteiras entre esses públicos e a consequente adaptação a novos projetos gráficos mais condizentes ao tratamento dispensado a livros infantis e juvenis, o que se vê em obras de escritores como Mário Quintana, Fernando Pessoa, Saramago. Nesse sentido, destaca-se o processo intenso de assimilação dos contos de fadas e narrativas populares, que não se destinavam ao público infantil, iluminando, por um lado, a dimensão universal de obras da tradição, oriundas da oralidade e geralmente marcadas por estratégias ligadas ao maravilhoso, e, por outro, tonalizando a definição do tipo de texto próprio à infância, ultrapassando-se, na visão de Hunt (2010), fronteiras da cultura erudita e popular. Assim, há que se considerar tanto a apropriação de narrativas literárias da tradição e o processo de adaptação/recriação, obras relidas e publicadas em outras linguagens e mídias, como as novas produções, que evidenciam, por vezes, o cenário ideológico contemporâneo, repensando estereótipos e representações sociais, bem como estratégias discursivas e hipermidiáticas que exigem novas habilidades e competências de leitura. O caráter da produção literária para crianças e jovens também promove uma trama de conexões que levam a pensar nos agentes sociais e culturais que emergem nessa relação, como família, escola, biblioteca, editoria (com editores, revisores, tradutores, artistas plásticos, ilustradores), mercado editorial, livraria, agentes que legitimam e promovem a circula&ccedi l;ão das obras, por vezes constrangendo-as a padrões ideológicos restritivos: se a literatura infantil e juvenil alargara-se à focalização de temas antes considerados tabus (RODARI, 1982), observando a preocupação de educar o leitor pelo diálogo instaurador de múltiplos pontos de vista, parece que assistimos a um recrudescer dessa abertura, observado em polêmicas recém instauradas nas mídias sociais. Reafirma-se a necessidade de validar a efervescência de vozes, na esteira da polifonia sustentada por Bakthin (1981), com vistas à multifacetada experiência literária, levando em conta a diversidade de aspectos e sentidos a serem considerados no ato da leitura crítica de textos que se apresentam em variados gêneros, linguagens e suportes e em que se incluem processos como criação, circulação, mediação, recep&cc edil;ão. Todo texto literário, cabe ainda ressaltar, é sempre atravessado, de forma clara ou velada, por outros textos que o precederam ou lhe são contemporâneos, constituindo-se essencialmente dialógico e intertextual. Outro ponto relevante que cumpre destacar é a abrangência dos estudos à roda da literatura infantil e juvenil e dos processos que abarcam a leitura literária. As pesquisas apontam, na visão de Ceccantini (2004), tanto para concepções mais aplicadas, direcionadas à formação do leitor e ao desenvolvimento da criança, como para focos mais teóricos, “mais preocupados com a autonomia do objeto focalizado e suas relações com a série literária e a histórica” (2004, p. 23). O campo de estudos se alarga a várias áreas do saber, por meio de olhares interdisciplinares e multissemióticos, propiciando pesquisas teóricas e práticas no âmbito de diferentes ciências. Acredita-se fecundo o diálogo desta literatura com discursos produzidos por outras esferas de conhecimento, como a educação, a psicologia analítica e do desenvolvimento, a psicanálise, a história, a mitologia, a semiótica, a análise do discurso etc.
Face ao exposto, este simpósio, no âmbito de sua proposta, pretende aceitar trabalhos e fomentar debates que promovam reflexão e alargamento conceitual em torno da literatura para crianças e jovens, no que tange diferentes perspectivas, como: funções e fronteiras dessa literatura; análises críticas de obras literárias em diferentes gêneros, linguagens e suportes, sob fundamentação teórica diversificada; práticas de leitura e metodologias inovadoras; presença de textos e autores de e sobre literatura para crianças e jovens em livros didáticos e meios de comunicação; aspectos relacionados a produção, circulação e recepção; temas contemporâneos ligados a questões polêmicas importantes na formação de crianças e jovens, como identidade, representações &eacut e;tnico-raciais, de gênero, de faixa etária, de diversidade cultural etc., bem como representações mais próximas do verismo (ZILBERMAN, 2003) ou articulando a presença do maravilhoso e do fantástico, no âmbito do insólito ficcional.
Referências:
BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.
CECCANTINI, João Luís C. T. “Perspectivas de pesquisa em literatura infanto-juvenil” In: __(org.) Leitura e literatura infanto-juvenil: memória de Gramado. São Paulo: Cultura Acadêmica; Assis-São Paulo: ANEP, 2004, p.19-37.
RODARI, Gianni. Gramática da fantasia. São Paulo: Summus, 1982.
ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. São Paulo: Global, 2003.
Coordenação: Maria Zilda da Cunha